Foram séculos de escravidão, e muitas décadas de políticas para o embranquecimento da população. Depois disso, tivemos mais outras várias décadas com a ideia consolidada de que o Brasil é uma mistura de raças, e, por isso, não há espaço para discussões sobre racismo. Muito recentemente, cerca de duas décadas, pessoas não negras começaram a participar de discussões sobre o não racismo no Brasil. Mais recentemente, políticas públicas foram criadas para diminuir os efeitos que o racismo tem criado no país. Mesmo com toda a luta dos movimentos negros, por séculos, somente nos últimos dois anos, as discussões racistas avançaram na nossa sociedade. E, só agora, em 2020, boa parte da sociedade abriu os olhos para o racismo.

Eu trago esse rápido panorama histórico, para mostrar que há muitas ideias racistas e escravagistas que ainda permanecem nos pensamentos da nossa sociedade hoje. O maior problema é que nós adultos e principalmente as crianças, estamos aprendendo o tempo todo essas ideias. Essas ideias estão construindo e aprofundando o racismo. 

Paula Batista palestrando para crianças de escola pública na cidade de Itatiba, interior de São Paulo.

O que muitas pessoas praticaram até agora, diante desse cenário é uma postura de “não racista”, acreditando que o fato de não fazerem agressões racistas, já resolve a questão. O problema é que essa postura, passiva, nos trouxe até este momento, onde pessoas negras são assassinadas pela polícia, pessoas negras recebem salários inferiores, onde há espaços em que as pessoas negras simplesmente não existem. Ou seja, essa postura, de não ação, criou o que chamamos hoje de racismo estrutural.

Não dá mais para apenas sermos não racistas, precisamos ser antirracistas, porque o antirracismo está ligado à ação para mudança. Se aprendemos, esse tempo todo com o racismo, podemos aprender e praticar o antirracismo.

Já dei muitos motivos para você se engajar nesse aprendizado, e mais, é preciso que você traga as crianças para essa luta também. Precisamos ter a postura antirracista, essa postura está ligada à ação, precisamos agir!

As pequenas ações que podemos realizar para começar a mudar

Primeiro você precisa ter consciência de que vivemos numa sociedade que tem uma estrutura racista, que oferece oportunidades diferentes para pessoas brancas e negras. Essa estrutura faz com que os negros estejam, inclusive, segregados. Vou te mostrar como pode enxergar isso na prática:
Sugiro que você apenas observe, olhe a sua volta. Observe o bairro onde você mora; a escola em que seus filhos estudam; a universidade que estudou; a empresa que você trabalha, seu departamento; a academia que frequenta; os espaços de lazer que visita ou visitava como shoppings, hotéis, restaurantes.
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Depois de observar, responda: onde estão os negros nesses lugares?
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Há negros usufruindo dos mesmos serviços e espaços que a sua família? Na mesma proporção em que há negros na sociedade? Onde eles estão? Estão apenas servindo, trabalhando ou se sequer existem nesses espaços? 

Ao observar isso, qual a sua reação? Qual é o seu sentimento? Qual é o seu questionamento?

A indignação é o segundo passo para a mudança, lembre-se, o primeiro passo foi tomar consciência disso, enxergar. 

Paula Batista ministrando treinamento para os profissionais de educação em uma escola particular na cidade de São Paulo

Se você fez esse pequeno exercício que eu propus, você já está iniciando o seu aprendizado antirracista. O terceiro passo são as ações. Comece a contagiar todos ao seu redor sobre esse aprendizado, fale com as crianças também, elas, com certeza, já perceberam isso, só não tiveram oportunidade de conversar sobre.

Esse aprendizado não acaba aqui. No meu perfil, @serantirracista no Instagram, estou sempre compartilhando conteúdo para aprendermos juntos, além de cursos e palestras que eu também ofereço, siga lá e vamos continuar esse aprendizado!

Paula Batista é Jornalista, especialista em mídia, informação e cultura pela USP e mestre em divulgação científica e cultural pela Unicamp. Estudiosa e educadora das questões raciais brasileiras.

Tem trabalhado, nos últimos anos, para compreender como o racismo afeta a infância das crianças brancas e negras. Por meio de suas pesquisas, desenvolveu um conteúdo focado em como os adultos podem oferecer para as crianças uma educação livre de racismo.

Ela é professora universitária, produtora de conteúdo, mentora de empreendedorismo, colunista de portais e blogs e criadora do perfil Ser Antirracista.