Muitas crianças sentem falta de se sentirem representadas nos brinquedos. Nesse ponto, as bonecas e os bonecos cumprem papel importante, pois auxiliam a criança a se identificar com o mundo - e a perceber diferentes representações da realidade.

Durante muito tempo, testemunhamos a ausência de bonecas de diferentes raças, biotipos, profissões. Não havia diversidade nesses brinquedos. Apesar de a representação de mulheres brancas em bonecas ainda ser maior, há iniciativas de pessoas e marcas no sentido de mudar essa realidade.  

A história dessas três irmãs é linda e inspiradora.

Ainda na infância, elas sentiram na pele a falta de representatividade por não encontrarem bonecas negras para brincar. Mas o vazio dessa representação não se traduziu em baixa autoestima, mas sim na força motivadora para que as irmãs Antonia Joyce, Lucia e Maria Cristina Venâncio criassem um negócio inovador.

“Há alguns anos percebemos que essa ausência de bonecas negras no mercado, sobretudo de peças feitas à mão, era um nicho promissor. Este foi o ponto de partida para idealizarmos o projeto do que viria a ser a Preta Pretinha. Investimos na ideia de preencher essa lacuna e o sonho de infância acabou se transformando em um bom negócio, capaz de transformar a sociedade e contribuir para um mundo mais igualitário”, contou Joyce ao site Itaú Mulher Empreendedora.

Joyce conta que, na infância, as irmãs procuravam por bonecas negras.

Mas o que encontravam estava muito longe da realidade:

- Procurávamos bonecas negras que representassem uma extensão da nossa família, e quase nunca encontrávamos. Quando havia algum modelo, os mesmos eram estereotipados: olhos enormes, boca exageradamente grande e vermelha e a vestimenta com tecidos de qualidade inferior aos demais. Aquilo não nos representava de forma alguma, estava muito distante do que éramos e de como nos sentíamos.

A primeira pessoa que fez bonecas que de fato representavam as meninas foi a avó delas, Maria Francisca. Feitos de tecidos e meias, os brinquedos despertavam o sentimento de representatividade nas irmãs. 

No ano 2000, as irmãs criaram a Preta Pretinha Bonecas no bairro onde nasceram, a Vila Madalena, na capital paulista. O sucesso veio logo: com seis meses de loja aberta já houve a primeira repercussão em mídia - que não parou mais, chegando até a outros países. Em 2004, elas mudaram para um espaço maior e criaram novos projetos.

Hoje, o ateliê produz bonecas artesanais negras, orientais, indígenas, indianas, muçulmanas e cadeirantes. Bonecas inspiradas em pessoas reais, em tudo que as irmãs vivenciam, diariamente. Mais do que uma loja, a Preta Pretinha se tornou uma organização de impacto social. 

"O que fazemos vai além da comercialização das bonecas. Justamente porque, ao inserir essa representatividade na sociedade, gera-se um impacto e uma consciência que mobiliza e educa as pessoas para a diferença e para a convivência" conta Joyce.

Entre os principais clientes da loja estão escolas, educadores, médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, juízes da vara da infância e família, produtores de cinema e TV, editoras, agências de publicidade, universidades, entre outros. As escolas costumam utilizar os bonecos para desenvolver projetos, trabalhar a questão da autoestima, combater o bulliyng, além de incorporar o uso na dinâmica curricular e como ferramenta de diálogo e de interação.