A regra para colocar a ideia em prática e encerrar as cenas de chilique das crianças é: problemas pequenos têm soluções imediatas, problemas médios têm soluções a médio prazo (fica para amanhã ou depois) e problemas grandes precisam de mais tempo para serem resolvidos. 

A pergunta (“Isto é um problema grande, um problema médio ou um problema pequeno?”) viralizou no fim de 2016 com este texto, de Fabiana Santos, do Tudo Sobre Minha Mãe

Falamos com ela - que é responsável pelo fim de muito chilique por aí! - para saber quais aprendizados surgiram com o hábito de convidar as crianças para dimensionar e resolver os problemas em conjunto.

No texto, a jornalista conta que a dica foi dada por Sally Neuberger, uma terapeuta especialista em ansiedade infantil de Washington, onde Fabiana vive com a família. 

A questão, no fim das contas, é uma maneira de jogar junto com os filhos. “Por mais que pareça superficial, a pergunta vai fundo. Tem um grande poder. A criança olha para você como quem diz ‘é sério que você tá me escutando? Você que falar comigo sobre isso?’”, avalia Fabiana.

A autora atribui grande parte do sucesso da tática a dois fatores: 

1. A valorização que a criança sente ao ser incluída na conversa como um indivíduo capaz de se expressar e de colaborar com a solução de problemas.

2. A necessidade que os pequenos têm de serem ouvidos com atenção e cuidado. “A falta de tempo para ouvir é um problema. Você muitas vezes só tem tempo pra fazer o que precisa ser feito [Fabiana dá ênfase ao “precisa”]. Às vezes, por estarem ocupados, os pais só dizem um ‘fica quieto’. Aí você corta da pior maneira, sem dar espaço”, pondera. 

Fabiana lembra que o ato de olhar nos olhos, pegar nas mãozinhas, ficar na altura da criança e começar um diálogo verdadeiro faz com que ela entenda que você está fazendo mais que uma pergunta: você está se importando com os sentimentos dela.


Cada criança reagirá de forma diferente

Mas a pergunta não é mágica: “Há uma diferença entre o que é bom e o que é sucesso, mas não tem milagre. Se tivesse, eu venderia. Tem boas ideias, boas indicações, boas inspirações, bons conselhos”, adverte Fabiana. Algumas vezes funcionará, outras, não, e com algumas crianças os resultados serão melhores do que com outras. Depende de muitos fatores. 

Um deles é a idade do pequeno. Fabiana e Sally decidiram que Alice, na época com cinco anos, já tinha capacidade para se comunicar e se expressar a ponto de gerar uma troca bacana. Crianças muito novas podem não ter tanto domínio sobre as próprias emoções e ter dificuldade na hora de fazer a racionalização necessária.

E pode ter certeza de uma coisa: seus filhos vão errar na hora de decidir em qual caixinha cada problema cabe. O impasse pode ser uma chuva que estragou o dia no parque. E aí? É pequeno, médio ou grande? 

Talvez a resposta seja que é grande - porque a vontade de brincar lá fora também era. Pra esses casos, a dica da Fabiana é paciência para ajudar a criança a dimensionar o problema corretamente, e não confrontá-la dizendo apenas que ela errou o tamanho: 

“Essa é a hora de dizer: deixa eu te explicar. Eu não controlo a previsão do tempo e eu não posso ir na loja comprar um sol e colocar lá no parquinho. Mas amanhã diz que não vai chover. Então o seu problema pode ser resolvido amanhã. Pode ser?”. 

Pronto. Um pouco de trabalho em equipe e o problema que era grande virou médio.


Estratégia para abordar temas difíceis

Fabiana ainda considera a estratégia uma maneira de explicar assuntos mais sérios da vida para as crianças. Quando o pai da jornalista faleceu, Alice teve um exemplo de problema grande e a conversa ajudou a falar sobre a morte. Houve o momento de explicar que “não tem como ver o vovô nem hoje. Nem amanhã. Nem depois. Isso é um problema grande. A saudade é um problema grande porque, nesse caso, não tem como acabar com ela. Esse problema é pra sempre”. 

É uma chance de ajudar a criança a relativizar o tamanho das coisas e é também uma oportunidade para criar e estreitar laços de confiança com ela.


Adolescência

Hoje, Alice já está um pouco maior e já internalizou o exercício, mas Fabiana garante que as perguntas seguem ajudando na hora de criar os filhos. Agora, ela faz as perguntas para si mesma na hora de tentar entender a adolescência do filho mais velho

“Não existe cartilha de adolescente. É outra história. Em vez de desesperar, eu tento colocar nas caixas. Ele está numa fase de ser muito esquecido e eu saio do sério. Aí tento entender que isso não é um problema grande. Se ele tivesse a responsabilidade que eu quero que ele tenha, ele seria um adulto, e não o adolescente que ele é”, conclui.