Uma campanha espanhola ilustra como os estereótipos de gênero são criados desde muito cedo - e estudos indicam que, depois, acabam por se consolidar em uma adolescência e vida adulta muitas vezes guiadas por eles.
Quando perguntados sobre o que queriam ser quando crescerem, meninos não titubearam em responder policial, construtor e bombeiro, enquanto as meninas iam logo dizendo que adorariam ser professoras, estilistas ou atrizes. Mas e se você fosse do sexo oposto? As respostas mudaram totalmente de figura, indicando que há um entendimento do que é profissão de menino e o que é profissão de menina.
Para elas, os meninos são policiais ou jogadores de futebol. "Há muito mais meninos policias do que meninas", observa uma pequena ao justificar a mudança de carreira caso fosse um menino.
Para eles, as meninas são professoras ou trabalham em pet shops deixando os cachorrinhos com os pelos bem aparados. "Elas podem se machucar. Não sabem colocar tijolos nem trabalhar", explica o pequeno que quer ser construtor, mas que seria dançarina se fosse do sexo oposto.
"Não são iguais!", sentencia outro. "Os meninos gostam mais da Lua, e as meninas de estudar", explica a pequena que quer ser professora, mas gostaria de conquistar o espaço sendo astronauta se fosse menino.
O problema aqui não é, necessariamente, que profissão cada um escolhe ser na hipótese de ser do sexo oposto, mas sim o fato de que a profissão muda de acordo com o sexo. Isso porque, primordialmente, a escolha de uma carreira deveria ter a ver com afinidade, interesse e paixão - e não com o que a sociedade diz que é coisa de menino ou de menina.
Para a organização Inspiring The Future, até o gênero que usamos para falar das profissões ajuda na criação desses estereótipos, principalmente quando reforçamos o gênero feminino: se optamos por dizer a costureira, a enfermeira e a telefonista, a mensagem é que estas são profissões femininas.
Por aqui, dados do Ministério do Trabalho confirmam que o que essas crianças dizem é reflexo da sociedade em que vivem. O jornal Nexo colocou em um gráfico algumas profissões brasileiras e a divisão por gênero de quem a exerce. Pedreiros, analistas de sistemas e militares são homens, professoras, enfermeiras e recepcionistas são mulheres.
Açougueiro é homem; cozinheira, mulher. Na campanha mencionada acima e nos estudos relacionados, algumas poucas profissões aparecem consideradas por meninos e meninas na mesma medida: medicina e medicina veterinária estão entre as mais comuns.
Os dados do nosso Ministério do Trabalho indicam que a inclinação dessas crianças espelha uma realidade na constituição da sociedade brasileira: por aqui, as vagas de médico são exercidas praticamente na mesma medida pelos dois sexos, 50% a 50%.
É importante prestar atenção nas pequenas coisas: nos brinquedos presenteados, na maneira como nos referimos aos profissionais, nas oportunidades que damos aos pequenos de conhecer e experimentar. Só assim eles serão capazes de escolher ser o que quiserem ser de verdade, e não o que acham que têm obrigação de ser.