Definido pelo jornal britânico The Guardian como "o médico que quer que os pais quebrem as regras", o pediatra catalão Carlos González não foge mesmo de polêmica. Em seu livro "Meu Filho Não Come!", ele diz que forçar uma criança a comer é falta de respeito e explica as razões:

"Forçar a comer é inútil, porque as crianças comem sem que seja necessário obrigá-las. Além disso, a conduta é contraproducente, porque a única coisa que os pais conseguem é que os filhos odeiem a comida e mais ainda “aquela” comida, que eles insistem em servir e que geralmente é a mais saudável. Também é perigoso quando a estratégia funciona, porque temos uma grave epidemia de obesidade infantil. Acima de tudo, esse comportamento é uma falta de respeito com a criança", diz González.

Sabe aquela insegurança quando o filho come três garfadas e não quer mais comer? Para o médico, se ela se recusar a continuar comendo, é sinal de que está sim satisfeita ou de que esses problemas de apetite precisam ser investigados por um especialista.

"Há crianças que não comem o suficiente. São reconhecidas por perder peso ou ganhar muito menos peso do que o normal. Nesses casos, o que os pais precisam fazer é consultar um médico para ver o que acontece com ela. Uma criança doente perde o apetite e emagrece. Mas, mesmo nesses casos, não se deve obrigá-la a comer. É preciso descobrir o problema, tratá-la adequadamente e, quando estiver curada, comerá sozinha".

Veja aqui alguns dos mantras do pediatra:

1) QUANTIDADE DE COMIDA - O cálculo é muito fácil de fazer: olhe para o que seu filho come, é justamente essa quantidade que ele deve comer –a menos que seja obeso, então, deverá comer menos. Não há outra maneira de descobrir a não ser observar. É preciso ter em mente que nem todas as crianças comem a mesma quantidade, alguns comem o dobro e até o triplo de outras da mesma idade.]

2) LANCHES FORA DE HORA - Se a criança pedir espontaneamente --sem que os pais ofereçam-- outros alimentos e se o pedido for razoável, não há razão para não dar. Agora, se o filho pedir doces, salgadinhos ou ainda algo que os pais não tenham à mão naquele momento, por exemplo, se não há tempo para preparar um macarrão ou se não há iogurtes na geladeira--, é só dizer educadamente: "Sinto muito, querido, isso não posso dar".

3) ESCONDER ALIMENTOS NO PRATO - Se a receita original tem aquele ingrediente que ele costuma rejeitar, não há problema em oferecer. Agora, colocar um ingrediente que não condiz com a receita e achar que a criança não vai perceber, parece-me bastante inútil. Por exemplo, colocar espinafre no molho de tomate. Dá para acreditar que é possível usar a verdura sem que o molho mude de cor ou sabor? É desnecessário fazer isso para que a criança coma meio grama de espinafre.

4) RECUSA DE ALIMENTOS - A opinião dela não é definitiva. A melhor maneira --e isso não é garantia de sucesso-- de uma criança aceitar comidas novas é colocar esse alimento repetidamente na mesa, sem fazer comentário algum, sem insistir, pressionar ou oferecer prêmios, caso ela experimente. É preciso ter em mente que há mudanças normais na aceitação de novos alimentos. Normalmente, os bebês comem de tudo --até jornal. Após um ano, começam a rejeitar as coisas que antes comiam e não aceitam alimentos novos. Na adolescência, voltam a aceitar coisas novas e, muitas vezes, com entusiasmo.

5) COMO INCENTIVAR? - O importante é que os pais tenham bons hábitos alimentares. Bebam apenas água –não refrigerante, suco ou álcool; comam frutas de sobremesa, em vez laticínios ou bolos; tenham sempre verduras e legumes na mesa, e não abusem do sal, do açúcar ou da gordura. Se os pais comem bem, a criança acabará comendo também. Para que ela não coma doces, biscoitos e não beba refrigerante, basta não comprar esses itens. Se houver apenas alimentos saudáveis em casa, ela só vai comê-los. Entre essas coisas saudáveis, cada criança decidirá o que come, quanto come e quando come.