O escritor moçambicano Mia Couto é um dos maiores representantes do continente africano, sobretudo nos países de língua portuguesa.
Recentemente, ele esteve no Brasil para lançar seu novo livro, "O Bebedor de Horizontes", e falou sobre o ensino do idioma - e sobre o modelo de educação que seguimos, o qual, segundo ele, deveria ser temperado por mais imaginação na sala de aula.
Em entrevista ao site Nova Escola, ele falou sobre a própria experiência escolar e sobre o ensino de hoje. Confira alguns trechos:
DESENHAR É FUNDAMENTAL:
"Essa coisa simples de desenhar não é só entretenimento e lazer. É algo que precisa ser profundamente instigado e acolhido porque o desenho é uma linguagem em que a criança diz o que está dentro dela e toma conta do mundo."
COMO DESPERTAR O PRAZER PELA LEITURA:
"Falta ler histórias na escola. A aprendizagem da Língua Portuguesa e daquilo que deve ser o gosto pela leitura tem que ser pensado para que a ligação com o livro chegue ao aluno não apenas como uma fonte de saber, mas como fonte de recolha de prazer absoluto. O professor tem de ser um contador de histórias."
A FUNÇÃO DA LITERATURA NAS ESCOLAS:
"A literatura não tem uma função no sentido de ser um material escolar. Ela deve ensinar os meninos a terem uma certa indisciplina mesmo, uma certa desobediência, a viajarem, a saírem da escola. A literatura tem que ser aquela janela em que eu me encostava na escola para olhar a vida e o mundo. Eu gostaria de ser mais lido aqui no Brasil, mas com a segurança de que os meninos tenham uma relação de prazer com a leitura, que não seja uma imposição."
LIBERDADE PARA ERRAR:
"Aquela proposta de incitar a imaginação mostra que o erro não é sempre condenável. Se o menino escreveu errado, mas tem uma alma de escritor, se ele me contou uma boa história, eu não posso matar o escritor que está ali em nome da boa escrita. Muitos escritores se tornaram bons autores porque escreviam mal, ou seja, não seguiam o rigor da gramática. A gramática e a ortografia se aprendem depois – e deve-se aprender."