"Crianças não são o futuro. São o presente". Com essa frase retumbando na cabeça, a designer indiana Kiran Sethi tomou uma decisão muito difícil para qualquer mãe, resolveu tirar seu filho da escola tradicional onde ele estudava e passar a educá-lo em casa. Nascia, assim, 16 anos atrás, em Ahmedabad, na Índia, a Riverside School, uma escola fundada por Kiran com o objetivo de empoderar as crianças para que elas protagonizem as mudanças sociais em suas comunidades por meio de quatro pilares, "sinta, imagine, faça, compartilhe". Hoje, a designer comanda ainda o "Design for Change", um programa internacional de educação que incentiva meninos e meninas a não esperarem o futuro para mudar o mundo.

O modelo incentiva os alunos a perceberem o que lhes incomoda, criarem soluções para o problema, agirem e, então, dividirem a história para que outras pessoas sejam contagiadas pela noção do “eu posso”. Para uma aula sobre direitos humanos, por exemplo, estudantes de 10 anos passam algumas horas enrolando incensos. Depois da atividade, as crianças foram às ruas convencer adultos de que o trabalho infantil precisava ser abolido na Índia. Veja aqui alguns trechos de uma entrevista concedida por Kiran a Época Negócios.

Como você criou a Riverside School?

Quando meu filho começou a frequentar a escola, fiquei ao mesmo tempo muito brava e desarmada pela velocidade com que ele aprendeu a dizer: “Eu não posso, eu não consigo”. É tão fácil ensinar uma criança que ela não é capaz... Isso acontece quando se nega a ela o próprio espaço ou nem mesmo se sabe seu nome. Na maioria das escolas é assim: os alunos se tornam um número ou uma vareta ambulante na sala de aula. Eu me recusei a aceitar essa realidade. Em vez de reclamar ou culpar alguém, apenas disse “eu posso fazer melhor”. 

Qual a diferença deste método para os sistemas de ensino mais tradicionais?

Essencialmente, a maioria das escolas foca em “o que” e “como”. A Riverside School destaca “quem” e “por que”. Nossa missão é fazer com que todas as crianças se formem com paixão e com compaixão. Hoje temos 410 alunos sendo educados de acordo com os nossos quatro pilares: sinta, imagine, faça e compartilhe.


Leia também:

Por que é importante reunir a família na hora das refeições?

Há limites para os pais interferirem na escola?


Como esse tipo de educação impacta o futuro dessas crianças?

Eu sigo acreditando que o problema com a educação atual é ensinar que o “mundo melhor” só acontece após a graduação. Quando conseguimos estabelecer a mentalidade da capacidade de transformação desde a infância, as pessoas passam a se preparar desde cedo para viver em um mundo melhor, e não para prepará-lo no futuro.

Como esse método extrapola os muros da Riverside School e alcança crianças em todo o mundo?

Quando vimos que esses quatro passos funcionavam muito bem com as crianças da nossa escola, entendemos que precisávamos chegar também a outros espaços. O mesmo processo aplicado na Riverside School é oferecido hoje em dezenas de países. No Brasil, isso acontece há cinco anos, em parceria com o Instituto Alana. O movimento acredita fortemente que crianças não são o futuro e que precisamos dizer a elas que são o presente, que podem fazer do mundo um lugar melhor hoje mesmo.

Você diz que toda criança pode e deve mudar o mundo à sua volta. O que é necessário para isso, especialmente em países em desenvolvimento e de grande desigualdade social, como a Índia e o Brasil, onde muitas sequer têm acesso à educação formal?

As histórias de mudança mais poderosas que chegam até nós vêm de pequenas vilas indianas. Uma criança que ensinou a mãe, então analfabeta, a ler e escrever, por exemplo. Sempre repito: não é preciso nada especial. Ninguém precisa de treinamento ou diploma para acreditar em algo. Todo mundo nasce com essa capacidade. Não estamos pedindo a essas crianças que mudem o mundo, mas que mudem os seus mundos.