O ambiente doméstico tem um grande impacto sobre a saúde mental e o desenvolvimento de longo prazo das crianças – e não apenas por causa da relação entre pais e filhos. A dinâmica de relacionamento entre os próprios pais também desempenha um papel crucial no bem-estar das crianças, em sua performance acadêmica e até em seus relacionamentos futuros.

Quem chama a atenção para esse assunto tão importante é Gordon Harold, escritor e professor de Psicologia da Universidade de Sussex (Reino Unido). O artigo foi publicado pela BBC de Londres e pelo periódico The Journal of Child Psychology and Psychiatry.

Antes de mais nada, é preciso destacar que, na maioria das vezes, pequenas discussões cotidianas são parte da vida e têm um impacto nulo ou muito pequeno nos pequenos. O que realmente afeta as crianças são comportamentos como gritos e demonstrações mútuas de raiva diante dos filhos, ou quando um cônjuge ignora o outro constantemente.

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Uma recente revisão de pesquisas internacionais, conduzidas ao longo de décadas e analisando comportamentos domésticos e o desempenho de crianças ao longo da vida, sugere que, a partir dos seis meses de vida, crianças expostas a conflitos tendem a ter batimentos cardíacos mais acelerados e níveis mais altos de estresse.

Conflitos severos ou constantes podem provocar consequências como:

  • Interrupções no desenvolvimento cerebral
  • Distúrbios do sono
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Indisciplina

Efeitos similares são observados em crianças expostas a brigas menos intensas, porém constantes, em comparação com crianças cujos pais resolvem seus conflitos e negociam entre si de modo construtivo.

Divórcio é problema?

Muitos adultos acreditam que o divórcio tenha efeito duradouro e danoso nos filhos. No entanto, estudo publicado em 2012 pela Universidade de Cardiff, no País de Gales, constatou que são provavelmente as discussões ocorridas antes, durante e depois do divórcio que causam danos às crianças, e não a separação em si.

A qualidade do relacionamento entre os pais é um elemento central, independentemente se os pais moram juntos ou não, se os filhos são biológicos ou adotivos.

E mais: quando as brigas ocorrem por causa das crianças, elas se sentem culpadas e acham que são responsáveis pela discussão. Como resultado, os filhos:

  • Desenvolvem dificuldades para dormir
  • Têm o desenvolvimento cerebral impactado
  • Apresentam maior risco de sofrer de ansiedade e depressão
  • Podem desenvolver mau comportamento
  • Apresentam desempenho escolar ruim

Segundo o artigo, os problemas não param por aí: as crianças criadas em ambientes emocionalmente frágeis tendem a perpetuar esse comportamento, o que faz com que ele passe de geração em geração.

"É um ciclo que precisa ser quebrado se quisermos que a atual geração de crianças (e a futura geração de adultos) tenha vidas felizes e relacionamentos positivos", diz o especialista.