Na hora de comprar um presente, é comum ouvirmos atendentes perguntando se o mimo é para menino ou para menina, não é? Até mesmo quando falamos em livros, esses objetos mágicos que nos transportam para um mundo sem barreiras, preconceitos e limites, essa questão se faz presente. Mas me diz aí: existe mesmo essa história de livro para menino e livro para menina? Claro que não! É por isso que garimpei alguns títulos que mostram perfeitamente que essa diferença não existe e que apenas reforça estereótipos de gêneros. Aqui eu mostro livros que comprovam que sensibilidade, gentileza, generosidade também são coisas de menino. Vem ver!

1. “Raul da ferrugem azul” – Ana Maria Machado

Neste clássico da literatura infantil, publicado pela primeira vez em 1979, Raul é um menino de coração solidário que vê manchas azuis aparecerem no seu corpo toda vez que presencia alguma injustiça acontecer. Manchas que parecem ferrugem e correm o menino por dentro e por fora. Com isso, o pequeno Raul se transforma em um verdadeiro defensor de uma masculinidade sensível e empática. Na história, o menino se lava com shampoo, álcool e detergente, mas nada tira sua ferrugem azul, que na verdade é seu mal-estar diante das falhas do mundo.

2. “NUNO e as coisas incríveis”, de André Neves – Jujuba Editora

Contar a história de um menino que desenha as coisas que não entende. O desenho é o jeito que o menino encontra de elaborar o mundo, de dizer o que as palavras não conseguem. Com seu olhar poético e atento, Nuno dá um novo significado para as coisas simples do dia a dia. Sem ter nascido com a preocupação de “ensinar” nada, mas contribuindo muito para o desenvolvimento das características mais humanas de meninos e meninas, “NUNO” é um livro sem rótulo para infâncias sem idade.

3. "Meu pé de laranja lima" – José Mauro de Vasconcelos

A história de um meninozinho a quem contaram as coisas muito cedo. O próprio prefácio do livro se define assim. Zezé é um garoto que tem como melhor amigo e confidente um pé de laranja lima, o Minguinho. Ao se defrontar com a morte, a solidão e a violência do mundo muito cedo, o menino dá uma lição de afeto. Em uma das falas do livro em que ele tenta explicar o que sente quando alguém o magoa, Zezé diz: “Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a pessoa morre”. Forte e corajoso, “Meu pé de laranja lima” ultrapassa os anos sem deixar de ser lembrado como um clássico das infâncias.

4. “Pedro e Lua”, de Odilon Moraes – Cosac Naify

“A história é assim: Pedro é um rapazinho encantado pela lua. Desde que descobriu que ela era uma pedra enorme flutuando no céu, ficou admirado. Um dia, ele tropeça em uma pedra e pensa que todas elas só podem ser pedaços da lua que caíram lá de cima – e devem sentir muita saudade de casa. Assim, ele começa a empilhá-las, todas as noites, o mais perto que pode da lua”. A resenha é do blog “A Cigarra e a Formiga”, e define perfeitamente a sensação que o livro traz. Um menino tão sensível que só quer fazer os pedaços de lua desgarrados voltarem para casa. A boa notícia é que “Pedro e Lua”, que foi publicado pela Cosac Naify e está esgotado há um bom tempo, vai ganhar novíssima edição no ano que vem, pela nova casa editorial do escritor e ilustrador Odilon Moraes, a Jujuba.

5. "Marcelino Pedregulho", de Jean-Jacques Sempé – Cosac Naify

O menino Marcelino, conhecido como Marcelino Pedregulho, fica com o rosto todo vermelho sem motivo nenhum. Ao contrário das outras pessoas, que enrubescem quando sentem vergonha, Marcelino é assim porque é. Assim, para não despertar a atenção dos outros meninos que caçoam dele, Marcelino passa o tempo brincando sozinho e desenvolvendo sua sensibilidade como pode. Até que um dia, ele conhece Renê, outro solitário como ele. Renê espirra à toa, e os dois encontram um no outro o melhor amigo de que precisavam para se aceitar. Já foram mais de quarenta nos desde a primeira publicação do livro e ele permanece com um clássico indiscutível.

6. "Como pegar uma estrela"– Oliver Jeffers

O livro acompanha os sentimentos de um menino que sonha em ter uma estrela só para ele. Poético e esperançoso, o pequeno passa as noites debruçado sobre a janela, observando o céu e sonhando com o dia em que alcançaria o seu sonho. O pequeno tenta de tudo para conseguir o que mais quer: árvores altas, foguetes, pássaros, até entender que afeto tem menos a ver com distância física, do que com o lugar que ocupa no coração. O booktrailer do livro está disponível no Youtube, e é um bom complemento à história em papel.