Todo mundo sabe que os filhos espelham-se nos pais, copiam seus comportamentos e buscam sua aprovação. Mas este texto, da psicóloga Angela Pruess, traz algumas questões muito sutis e importantíssimas à baila quando o assunto é comocriar o seu filho.
Ela é especialista em terapia infantil e familiar, além de ser mãe de três filhos - dois deles com necessidades especiais.
Angela começa o texto explicando que o que está nos livros não é, necessariamente, o que acontece na realidade: “Depois de receber meu diploma em psicologia infantil, achei que eu tinha toda a informação que precisava para controlar e moldar o comportamento das crianças (incluindo os meus futuros filhos). Sim, eu fui ingênua a ponto de acreditar nisso”, escreve.
Ela segue com esse raciocínio para afirmar que mesmo sabendo que o comportamento infantil é muito mais complexo do que qualquer teoria, nós ainda apostamos em sistemas simplistas - como o de recompensa com estrelinhas ou adesivos - para moldar o comportamento das crianças.
E esperamos delas personalidades colaborativas e sociáveis a partir disso. Mas, então, qual é a melhor estratégia?
Angela é apoiada por diversos estudos científicos (este, por exemplo) quando garante que tudo começa em um relacionamento de verdade. Crianças e adolescentes que sentem uma conexão genuína com os pais costumam ter níveis de estresse mais baixos, menos pensamentos suicidas e até um menor consumo de álcool e tabaco.
A chave de tudo estaria, então, nessa conexão com os adultos importantes na vida dos pequenos: pais, professores, cuidadores em geral.
A psicóloga recomenda atentar para uma obviedade que, às vezes, não leva o crédito que merece: crianças são pessoas. Seres humanos com vontades, preferências, medos, como todos os outros. A ideia de que controlar uma criança é o melhor pra ela não é das melhores.
“Quando nós falhamos em enxergar essa humanidade no dia a dia, e, em vez disso, vemos nas crianças apenas maneiras de facilitar que as nossas expectativas de adultos sejam atingidas, a gente perde a oportunidade de conectar-se com elas de maneira mais profunda”, avalia no texto.
E tudo passa pela conexão.
Entender que uma conversa só será mais potente que um castigo se a criança sentir-se incluída nessa conversa e não apenas a figura que causou o transtorno. Essa valorização, por si só, já é um poderoso motivador de comportamentos positivos e uma fonte de energia para construir personalidades mais resilientes.
A criança sabe que pode ser parte da solução dos seus problemas e, através da conexão com os adultos, sabe que tem com quem contar nos casos em que não conseguir sozinha. Essas ferramentas emocionais e cognitivas podem ajudar desde na concentração na escola e até no desenvolvimento de novas amizades.
Angela conclui o artigo com um muito otimismo:
“Quando os adultos responsáveis pela criação de uma criança dão ênfase a uma base forte calcada no relacionamento, a possibilidade de mágica surge. Conexões fortes com adultos são comprovadamente fonte de respeito, carinho, resiliência, motivação e realização em uma criança. Não só a curto prazo, mas no longo prazo também, já que esses atributos todos podem ser internalizados para sempre”.
E aí, vamos nos conectar?
Foto: Bruno Nascimento